23 de jan. de 2014

Um Homem Mimético

Este ensaio foi originalmente escrito em Fevereiro de 2005, republicado em Julho de 2006, e, graças à Internet Archive Wayback Machine, definitivamente de volta ao blog como parte da Legacy Restoration Initiative. Memento vivere.

Minha (curta) vida tem sido marcada pela quase completa ausência de relacionamentos amorosos.

Aos 26 anos, já sentindo-me incomodado pela solidão amorosa, propus-me a buscar as razões desse persistente insucesso.

Eis que surge o óbvio. Descobri que tipos como eu acabam a vida como solteirões, ou o que é pior, casam com a primeira que aparecer, desgraçando suas vidas para todo o sempre.

As mulheres, os seres que mais sofrem com a ação de homens sem-caráter, aparentemente não se sentem atraídas por homens como eu. E sabem porquê? Porque homens de caráter são desinteressantes. São chatos. São cricris, na opinião de uma amiga que deixou escapar esta afirmação num rompante de sinceridade. Em uma frase, homens de caráter não despertam a atração do sexo oposto.

É justamente aí onde entra o mimetismo. Ele é é uma incrível habilidade de certos animais que a usam para se cobrirem de uma espécie de camuflagem, que é usada para escapar dos inimigos, ou principalmente, para facilitar a caça. O mimetismo se deve principalmente a defeitos de percepção da vítima, que não consegue perceber que aquele belo galhinho seco ali é na verdade, seu predador.

O homem é, por excelência, um ser mimético principalmente no que se refere ao esconder os traços de caráter indesejáveis e que poderiam atrapalhar o despertar da atração do sexo oposto, e assim realçar grandemente as características masculinas que fazem uma mulher inconscientemente sentir-se atraída por um homem. Mimetismo é portanto o mesmo que enganar, e se baseia em falhas de percepção da vítima.

Traços masculinos que as mulheres adoram, como impulsividade, ousadia, masculinidade, charme irresistível, fluência, estão indissoluvelmente ligados a certos traços do mau-caratismo, que são MENTIR, ENGANAR, TRAPACEAR, e TRAIR.

A minha amiga (graças a Deus por uma amiga que fala o que pensa) diz que eu sou o homem perfeito, mas que me falta um certo "machismo". Eita! Eu sabia que esse negócio de feminismo não ia dar muito certo... Então, o que ela quer dizer é que eu tenho que ser "mais interessante".

Mal ela sabe que para alcançar esse estado de "interessante", "charmoso" (não que eu não o seja), eu tenho que desenvolver também aquela odiosa característica em um homem: a habilidade de enganar.

Deve-se medir o sucesso com as mulheres proporcionalmente à habilidade de enganar. Quanto mais capaz for de enganá-las e fazê-las perceber o que quero que elas percebam, melhor para a conquista.

Não adianta tapar o sol com a peneira: o jogo da conquista e da sedução amorosa é o jogo do engano. É o amor mimético. Cada um esconde seus "podres" e mostra ao outro apenas o que interessa mostrar, e que fará com que o sexo oposto "caia na armadilha".

Por exemplo, durante a conquista, o cara demonstra ser atencioso. Demonstra ser descolado. Demonstra ser sensível às necessidades femininas. Ele está sempre provocando-a, fazendo-a rir, fazendo-a sentir aquela injeção de adrenalina que a deixa inebriada. É tudo demonstração para inglês ver. Seu objetivo? "O triângulo das Bermudas": uma vez alcançado, ele simplesmente a descarta e parte pra outra.

Quando uma mulher se sente atraída por um homem, entram em ação complexos mecanismos psico-biológicos, dos quais ela normalmente não tem consciência. Ao se aproximar do rapaz, ela sente o sangue correndo pelas veias, sente o coração querendo sair pela boca. A respiração se acelera, ela sua frio, ela sente as pernas fraquejarem. É, portanto, a vítima ideal. Já o rapaz, sabe exatamente onde tocar, o que falar, para que esse estado de coisas se potencialize em entrega incondicional.

A mulher, tendo seu coração como seu guia, sente-se apaixonada, e obviamente espera o mesmo de volta. Mas tudo o que ela consegue ver do homem é o mimetismo, graças à paixão, que turva sua percepção, incapaz de perceber que aquele camarada, charmoso, irresistível, bem-falante, e que aparentemente sabe o que fazer com uma mulher, na verdade é como todos os outros, ele mente, engana, trapaceia, e trai.

Na primeira reunião com os amigos, ele dirá: "Tá vendo aquela ali? 'Garrei.". "E agora?" é perguntado. "Agora tou investindo naquela ali.... tá vendo como ela é cavala de tão gostosa que é?". Papos que se ouvem em todas as rodas masculinas, sem exceção.

Diz um provérbio bíblico que "não é bom ser muito correto". Se é esta a condição humana, então é melhor que eu pare de reclamar, e fazer o que tem de ser feito.


Eu também serei um homem mimético.

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